Alçar novos espaços para o movimento contracultural potencializado pel’Os Mamíferos, nos anos 60 e 70, é o que move o projeto-vivo Aurora Gordon. Tal banda, que desde 2005 atua contra o esquecimento das pesquisas aguçadas pelo grupo Os Mamíferos, agora, propõe releituras do repertório dos mesmos no intuito de colocar a obra musical em diálogo com a contemporaneidade. “Corina” é o primeiro single e antecede a chegada de um disco completo intitulado Via Aérea. A faixa chega às plataformas de streaming pelo selo Casulo, no dia 18 de fevereiro, e acompanha um registro da performance ao vivo .
“’Corina’ nunca foi apresentada ao vivo pela banda Os Mamíferos. Apesar dela ter sido composta em 1968 e de estar sempre presente nos ensaios e jam sessions durante o breve período ativo da banda (1967 – 1971), foi uma criação praticamente inexplorada naquele momento e que somente agora ganhou uma primeira versão oficial”, comenta Murilo Abreu, idealizador do projeto. “Essa canção traz uma visão bem humorada e debochada do contexto político e histórico vivido pel’Os Mamíferos na época, como censura e repressão política na ditadura militar de 1964”, completa.
A regravação mescla rock e jazz com a essência da música brasileira, sem perder o arranjo original. “Em 1972, Afonso Abreu, que formou Os Mamíferos ao lado de Mario Ruy e Marco Antônio Grijó, fez algo visionário: ele utilizou um gravador para registrar um trecho de ‘People Make the World Go Round’, gravada por Milt Jackson no álbum ‘Sunflower’, e, depois, com o mesmo gravador, cantou a melodia e a letra de ‘Corina’ por cima desta base. Foi assim que, provavelmente, Afonso se tornou um dos pioneiros na utilização de samplers no Brasil. Um marco que agora busca reconhecimento dentro do nosso projeto”, conta Murilo, um dos vocais no coletivo que não possui uma formação fixa e, sim, sazonal, abraçando novas pessoas desde 2005, a fim de trazer visibilidade à atual cena capixaba.
Para além de dar luz ao contexto histórico da música brasileira marcado pelo movimento contracultural, a finalidade do projeto é — acima de tudo — incentivar pesquisas sobre nomes que possam ter caído no esquecimento coletivo. “O Aurora Gordon acontece através da reunião de pessoas e artistas que carregam uma admiração pela história do som capixaba. Seus integrantes se identificam sonoramente e artisticamente com as letras, canções e melodias daquela contracultura”, afirma Murilo.
“Os benefícios do projeto dizem respeito a acessibilizar conteúdos artísticos de nossa história que, ainda hoje, ecoam e exercem influência em nossa cultura, apesar de permanecerem desconhecidos para a maior parte das pessoas”, explica o idealizador, na intenção de potencializar o alcance de uma história perdida pelas novas gerações.